domingo, 18 de maio de 2008


A ESCASSEZ DE ALIMENTOS NO MUNDO:

SERÁ QUE O GRANDE VILÃO É O BIOCOMBUSTÍVEL BRASILEIRO?

Às grandes manchetes dos jornais, nestes últimos dias mundo afora, dizem respeito à alta dos preços e a escassez de alimentos.

Este tema vem dominando as discussões dos grandes organismos internacionais, como a ONU, FMI, Banco Mundial, ONG’S e todas apontam diferentes culpados e fatores para este grave problema.

Para explicar esta crise, encontramos inúmeras teses, algumas responsáveis e fundamentadas outras sem nenhuma sustentação teórica ou técnica. Vamos conhecer algumas delas:

O crescimento do poder econômico da China, Índia e Brasil e por conseqüência o aumento do poder aquisitivo das pessoas destes paises fizeram com que as famílias aumentassem e mudassem os hábitos alimentares, passando a consumir mais grãos e carnes, por exemplo. Outro fato discutido é o aumento do custo da produção de alimentos causado pelas constantes altas dos preços do petróleo que é utilizado para produzir, transportar e armazenar grãos, como o milho e a soja para produção de agro-combustível. Estes são fatores realmente consideráveis

Uma outra vertente sustenta que uma das causas para alta dos preços é à força das multinacionais que controlam 40% do comércio mundial e até 90% do comércio mundial de bens de primeira necessidade.

Outro fato que não podemos nos esquecer é o histórico caso dos volumosos subsídios que a Europa e os EUA oferecem aos seus produtores rurais.

Por seu turno, o Engenheiro Agrônomo Celso Marcatto Coordenador da ONG ActionAid/Brasil, sustenta a tese, da qual compartilhamos, que uma das principais causas para o desabastecimento de alimentos e por conseqüência o aumento dos seus preços, é com relação à sua distribuição, fato que se tornou o grande desafio para as nações.

Segundo o Agrônomo Celso Marcatto, “o grande problema desta escassez de alimentos, ao contrário do que se pensa, não se resolverá apenas com o aumento da produção global, o acesso aos alimentos disponíveis continua sendo uma questão central ainda a ser equacionada, principalmente nos países em desenvolvimento. Com exceção de regiões que passam por catástrofes naturais, parte importante das pessoas que estão na condição de insegurança alimentar no mundo não o estão por falta de alimentos disponíveis, mas por falta de recursos (dinheiro, terra e meios de produção) que permitam ter acesso a esses alimentos (adquirir, produzir, trocar)”.

Continuando ele acrescente: “A chamada revolução verde, modelo de produção agrícola baseado na produção em grandes propriedades de monocultivos para exportação, não tem conseguido dar resposta à questão do acesso aos alimentos. Ao contrário, onde o modelo se implantou, o que ocorreu foi aumento da concentração da renda e dos meios de produção, com reflexos significativos na ampliação da insegurança alimentar e nutricional da população pobre”.

Por fim, alguns organismos internacionais tentaram responsabilizar o Brasil por esta crise, alegando que a culpa é da nossa grande produção de biocombustível, tese imediatamente abraçada pela grande mídia que a transformou em um verdadeiro e destacado factóide.

No entanto, esta afirmação não encontra nenhum amparo técnico e demonstra a imparcialidade, a irresponsabilidade e o desconhecimento destas organizações sobre os caminhos trilhados pelo agro-combustível do nosso País.

O Brasil está ciente do seu papel no cenário mundial no que diz respeito à sua capacidade de produção agrícola, afinal possuímos 20% da área agricultável do mundo. No entanto, o que não podemos aceitar são insinuações levianas ou regras ditadas pela comunidade internacional sobre como devemos utilizar esta vasta área.

Com relação ao nosso biocombustível, em especial à produção de álcool, primeiramente, devemos denunciar as precárias condições de trabalho e os baixíssimos salários dos trabalhadores (bóias-frias), fato que nos envergonha e que não se justifica. Por outro lado, temos que aclarar e afirmar ao mundo que o nosso álcool de cana-de-açúcar, segundo o chefe-geral da Embrapa, o agrônomo e pesquisador Frederico Durães, é “oito vezes melhor do que o etanol de milho produzido pelos EUA e, seu preço é menor 66%. Nossa produção de cana-de-açúcar ocupa apenas 2% da área agricultável do país. Produzimos 7,0 milhões de hectares de cana, desses, cerca de 3,5 milhões de hectares são utilizados para a produção de etanol, aproximadamente 22 bilhões de litros, o restante é usado para produzir açúcar”.

Estes organismos internacionais escondem ainda que o etanol produzido pelos EUA, a partir do milho, tem um alto consumo de água, e somado a isso, o uso indiscriminado de nitrogênio como fertilizante do solo, pode contaminar o lençol freático, os rios e águas costeiras. Alem disso a redução de gases do efeito estufa na produção e combustão do etanol de cana-de-açúcar, comparada com combustíveis fósseis, foi de 66% e para o etanol de milho, esta redução foi de apenas 12%. Não obstante tudo isso, devemos lembrar que a indústria de álcool americano somente é viável devido ao subsídio de U$$ 4,1 bilhões por ano para a produção de milho e etanol. No Brasil, esta prática não existe.

Diante de todos estes dados e frente à empáfia de alguns organismos internacionais e do pseudo-império estadunidense, podemos afirmar: o Brasil será sim, muito em breve, o maior celeiro do mundo e o nosso biocombustível, ao contrário do que insinuam, será o grande condutor para que os países do terceiro mundos possam desenvolver de forma sustentável e ecologicamente equilibrado.

Odilon de Mattos Filho