sábado, 21 de março de 2009


OS DOGMAS E OS (PRÉ) CONCEITOS DA IGREJA EM DEBATE

“...Não se dialoga sem clareza da própria identidade. Desafia-nos, portanto, aprofundar a nossa própria fé cristã. Não se dialoga sem abertura ao diferente que exige discernimento. Mentalidade fundamentalista e presa a ortodoxias não estabelece nenhum diálogo. O discernimento exerce-se na dupla linha de pedir maior clarificação e firmeza da própria fé e de contribuir para a sua purificação, despojando-a de entulhos históricos e percebendo pontos até então desconhecidos”. João Batista Libânio

A Igreja Católica no Brasil, por mais uma vez e argumentando a defesa de seus dogmas e (pré) conceitos, defrauda um embate com a sociedade e o Estado brasileiro.

Há 30 anos atrás, o debate foi em torno da Lei do Divorcio. No ano passado a resistência foi contra a pesquisa com células embrionárias e hoje o grande embate é com relação à suspensão de Ordem do Padre/Deputado Federal, Luiz Couto e a excomunhão de todos os envolvidos no aborto realizado na menina de 09 anos que vive no Recife. Vamos aos fatos.

O Deputado Federal do PT/PE, Padre Luiz Couto, em entrevista ao Jornal “O Norte” de Pernambuco disse que é contra a obrigatoriedade do celibato e a discriminação de homossexuais, além de ser favorável ao uso de preservativo. Segundo o Padre-Deputado “a restrição à vida afetiva e sexual dos religiosos deveria ser opcional e não uma imposição, pois isso não tem fundamentação bíblica, portanto, deveria ser optativo". Disse ainda que defende o uso da camisinha como uma questão de saúde pública.

Logo após esta entrevista veio a reação da Igreja com a imediata condenação ao Padre Luiz Couto que foi suspenso a exercer o Sacerdócio pelo Arcebispo da Paraíba Dom Aldo di Cillo Pagotto. Segundo o clérigo a “doutrina católica ficou ferida e comprometida com as declarações de Luiz Couto”, dizendo ainda, que “quer que ele [Luiz Couto] se retrate publicamente porque foram declarações infelizes e ambíguas.

Após esta lamentável decisão do Arcebispo da Paraíba, por mais uma vez a Igreja Católica é manchete na imprensa nacional e internacional. Agora é com relação à sua posição no caso do aborto realizado na menina (criança) de 09 anos de idade que vive no Recife.

Segundo os jornais, esta menina desde seus 5 anos de idade vinha sendo molestada e estuprada pelo padrasto até que, com seus 9 anos de idade, engravidou-se de gêmeos. Após a família descobrir essa gravidez a criança foi levada para uma avaliação médica que classificou a gestação como de alto risco, pela idade da criança e por se tratar de gêmeos. De acordo com o médico, Dr. Olímpio Moraes, “se a gravidez continuasse, a saúde da menina poderia ser seriamente comprometida, inclusive poderia correr sério risco de morte ou deixar seqüelas definitivas, por isso, decidiram pelo aborto. Ademais, segundo os médicos, “no Brasil, a lei permite que o aborto seja realizado em caso de estupro ou se a mãe corre o risco de morrer e essa menina estava incluída nos dois casos”.

Após este triste caso vir à tona, não mais que de depressa, aparece novamente a Igreja Católica, agora representada pelo Arcebispo de Olinda, Dom José Cardoso Sobrinho que imediatamente excomungou da Igreja os médicos e todas as pessoas envolvidas na interrupção da gravidez por entender que este procedimento é contra as leis de Deus, no entanto, livrou o estuprador da excomunhão, dizendo: ”Ele [estuprador] cometeu um crime enorme, mas não está incluído na excomunhão. Esse padrasto cometeu um pecado gravíssimo. Agora, mais grave do que isso, sabe o que é? O aborto, eliminar uma vida inocente.“

Tendo em vista a repercussão negativa do caso para a Igreja Católica, imediatamente a CNBB se manifestou desautorizando o ato do Arcebispo Dom José Cardoso, no entanto, e para perplexidade do País, manteve a excomunhão dos médicos que salvaram a vida da criança.

Frente a estes dois fatos específicos, verificamos dois paradoxos que nos sugerem as seguintes indagações: Será que a batalha contra a AIDS - e o preservativo é uma poderosa arma contra esta doença - não significa lutar pela vida? Porque as seculares e inúmeras mortes de crianças nordestinas por falta de Políticas Sociais dos Governantes daquela região não ensejariam a excomunhão destes Políticos?

Pelo exposto e dentro de nossa ignorância teológica, entendemos que a Igreja Católica necessita passar por uma ampla Reforma para que se possam rever seus dogmas e (pré) conceitos, caso contrário, o mundo cristão pode entender, assim como o filósofo Eric From que “a religião têm uma tríplice missão. Para toda humanidade serve de consolo às privações impostas pela vida. Para a grande maioria dos homens é um estímulo à aceitação emocional de sua classe e para a minoria dominante é um alívio dos sentimentos de culpa provocado pelo sofrimento daqueles a quem oprime”. Que os bons ventos do “Concílio Vaticano II”, de “Medellín” e “Puebla” penetrem nas mentes e corações da "jerarquia" da Igreja Católica!