“VEJA” ATÉ QUE PONTO CHEGA O PRECONCEITO RACIAL:
Referindo-se a uma ação que tramita no STF contra a Política de Cotas e o PROUNE, escreveu este jornalista sob o título “O Quilombo do Mundo” o seguinte texto: “É uma chance para acabar de vez com o quilombolismo retardatário que se entrincheirou no matagal ideológico das universidades brasileiras”. E utilizando-se de uma interpretação literal e pejorativa o jornalista termina seu texto dizendo: “O Brasil se refugiou no passado. O Brasil é o quilombo do mundo. Quilombo, segundo o dicionário Aurélio, é estado de tipo africano formado, nos sertões brasileiros, por escravos fugidos”.
Neste mesmo sentido Ismar C. de Souza, militante do Movimento Negro e articulista “free lancer” assinalou com muita propriedade: “Os interesses e idiossincrasias de nossa elite conservadora produziram convicções escravocratas que se tornaram estereótipos, ultrapassando os limites do simbólico e incidindo sobre os demais aspectos das relações sociais. Por isso, talvez ironicamente, a ascensão dos negros na escala social, por menor que seja, sempre deu lugar a manifestações veladas ou ostensivas de ressentimentos”.
Por sua vez o Professor Valter Roberto Silvério, Coordenador do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), criticando àqueles que contestam a Política de Cotas preleciona: ...há um cinismo, por parte da classe média brasileira, que nega a existência de racismo e que não admite que a educação tem o poder de combater o racismo, por medo de perder seus privilégios. Esses grupos, que sempre tiveram privilégios, não percebem que essas políticas geram a possibilidade de construção e o aprofundamento da cidadania".
Realmente são precisos os argumentos do Professor Roberto quanto à intolerância de alguns com relação às cotas. Aliás, neste diapasão a jornalista, Miriam Leitão afirmou que a igualdade perante a lei sempre conviveu com tratamento diferente aos desiguais. Na área tributária temos a regressividade; o “Bolsa Família” é direcionado às camadas mais pobre da sociedade; temos cotas para as mulheres nos Partidos quando da escolha de candidatos aos cargos proporcionais e até no comércio internacional existe o princípio do tratamento diferenciado para os Países mais pobres.
Portanto, fica nítido que as cotas estão dentro destes mesmos parâmetros, não há motivos para resistências, ao contrário, tem-se que ter consciência de que tratar da mesma forma os desiguais é que acentua a desigualdade.
Assim, e passados 120 anos da abolição “formal” da escravatura, temos que reconhecer nossa imensurável dívida com os irmãos afro-descendentes, cabendo a nós e aos movimentos populares impulsionarmos o Governo para dar prosseguimento à abolição por meio da intensificação das Políticas Sociais e o aprofundamento das Ações Afirmativas, e comitantemente, denunciar publicamente, toda vez que estas e outras Políticas de discriminação positiva forem contestadas de forma preconceituosa como o fizeram estes “capachos” desta “elite monocromática”, acobertados pela capa de jornalistas.
Um comentário:
"tem-se que ter consciência de que tratar da mesma forma os desiguais é que acentua a desigualdade".
Com certeza,se o preconceito existe e é camuflado,compactuar com ele,fingindo que todos são mesmo iguais perante a lei,só dá mais força pra que continue existindo.A única forma de combater é discutir abertamente,tratar cada um como o que realmente são a fim de que mentes se abram e o preconceito deixe de existir.
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